Manifesto óbvio

Há de chegar o dia em que a democracia e o respeito absoluto à diversidade serão, pelo óbvio, valores inquestionáveis.

Há de chegar o dia em que a incitação à violência será algo tão dissonante e estridente quanto o estopim das armas, tão ridículo e estúpido quanto as podres palavras saídas das bocas que discursam pelo ódio, tão estapafúrdio e anacrônico quanto o cinismo histriônico dos paladinos da moral.

Há de chegar o dia em que o representante máximo da nação nem sequer cogitará atacar os pilares da civilidade com sua podridão ética e verbal, sugerindo zoofilia, canibalismo, pedofilia, atentados à bomba, genocídio indígena, sonegação, promovendo o negacionismo histórico e científico, elogiando ditadores e torturadores. 

Há de chegar o dia em que a visão de mundo binária, maniqueísta, e todos os preconceitos que brotam dela – racismo, xenofobia, sexismo, classismo, LGBTfobia e demais formas de sectarismo – serão extirpados do nosso cotidiano e, por fim, relegados à memória dos livros que nos dedicamos a preservar. 

E também há de chegar o dia em que, no nosso círculo, não haverá mais artistas e fotógrafos machistas e misóginos, abusadores e assediadores. Muitos desses, covardes para assumir a bestialidade que praticam no privado, desfilam cinicamente em público com roupagem progressista. Que não se enganem: as máscaras sempre caem. Sua existência física, assim como a de suas obras, está e estará contaminada para sempre pela canalhice que propagam. Serão, sem dúvida, vexaminosamente condenados ao esquecimento. Lutamos e lutaremos por isso. 

Estamos hoje no vórtex de um longuíssimo dia que anoiteceu em 2016, madrugou em 2018 e resistiu como pôde nestes últimos 4 anos. O dia 30 de outubro de 2022 há de anunciar um amanhecer, ecoando o grito e a potência do reinício, projetando-nos para um óbvio futuro.

Votemos radicalmente contra o neofascismo. 

Votemos, unidos e sem hesitação, pela democracia e pela civilidade.


Leonardo Wen
Base de Dados de Livros de Fotografia




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