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fotografias Marlos Bakker
Da janela da minha casa, em São Paulo, enxergo dois espaços bem distintos separados por um muro. De um lado uma vila antiga com seu asfalto imperfeito. Do outro, um prédio recém construído, com piscina, varanda gourmet e palmeiras na área de lazer. Durante os meses em que registrava a vida dos dois lados testemunhei, em paralelo, inúmeros desentendimentos (no Brasil e mundo afora) relacionados a posições políticas, religiosas e culturais diametralmente opostas. Dessa maneira, ao me sentir vivendo em tempos de intolerância, negação ou desqualificação do outro, atitudes que tanto tem obscurecido a potência dos diálogos e da troca nos dias de hoje, decidi que, ao invés de evidenciar as diferenças entre a vila e o prédio, eu iria, pelo contrário, aproximá-los. Sendo assim, com o intuito de criar uma zona de ambiguidade onde o muro, juntamente com as certezas que carrego, fossem demolidas, desenvolvi uma série de estratégias para que, refletindo as faces paradoxais que constituem a natureza humana, os dois lados viessem a dialogar, se relacionar, se juntar, se confundir e se conciliar, tanto mais assim quanto mais distante estivessem entre si as pessoas e suas vidas. Para isso, experimentei alterar padrões formais das fotografias: as imagens foram transformadas de cor para pb, já que, na escala cmyk, o preto é a soma de todas as cores, onde todos se “reúnem”. Posteriormente, apliquei a essas imagens em um layer tonalidade cinza médio para equalizar os contrastes. Optei pelo formato quadrado onde todos os lados são iguais. Por fim, elenquei uma série de palavras que, de alguma forma, se relacionassem com palavras-chave como mistura, união, dualidade, incerteza, etc… Tratou-se de mais uma operação agenciando uma possível conciliação entre semânticas distintas, imagem e palavra, demolindo, assim, mais um muro e criando novos simbolismos.
(FONTE: site da editora)
Textos em português e inglês.