O Ф da fotografia
texto Mauricio Lissovsky
Em 1979, diante do retrato da mãe falecida, Roland Barthes escreveu os 48 pequenos capítulos de A Câmara Clara (CC) (...). O livro é, simultaneamente, a observância de um luto e a reencenação, no teatro da fotografia, de temas que perseguiu ao longo da obra: o obtuso, o Real, o punctum, o zero, o neutro. Publicado em 1980, jamais deixou de ser discutido, admirado, criticado. Esse debate, no entanto, ao contrário do que aconteceu com a obra de Walter Benjamin, não serviu para alargar seu alcance ou aprofundar seus insights.
Reduzido a um pequeno número de citações, a multidimensionalidade do texto se perdeu. Esse estudo é resultado de um seminário que, em 2019, procurou reler a CC. Reler de outro modo – não mais em busca dessa ou daquela citação útil e vagamente lembrada, ou do saber consagrado, supostamente aplicável. Reler como um leitor selvagem, precipitado, que se lança à escrita como quem acompanha o movimento da mão sobre a página em branco, a tinta da caneta irrigando cada fibra do papel. (...)
(FONTE: a publicação)