Paisagem concretista
fotografias José Roberto Bassul
Numa manhã de junho de 2015, ainda voltando à fotografia que havia abandonado por muitos anos, queria fazer imagens de Brasília que evitassem a já cansada iconografia dos monumentos. Interessado nas formas geométricas, lembrei-me de Marcel Gautherot, o franco-brasileiro cujo talento ajudou a perpetuar a genialidade de Oscar Niemeyer. Gautherot havia fotografado não apenas os edifícios monumentais, mas também os singelos blocos residenciais projetados por Niemeyer.
Na expectativa de reler as imagens do mestre, segui animado para a SQS 108, primeira superquadra de Brasília. Foi uma decepção. Logo percebi que a Brasília do Gautherot não existia mais. Nos anos 1960 ainda não haviam crescido as árvores que hoje embelezam a cidade.
Como encontrar a geometria perdida naquilo que a natureza havia tomado? Olhei então para o alto, na tentativa de afastar as árvores do enquadramento. A decepção virou surpresa. Percebi de repente que as superquadras eram uma espécie de “labirinto” do neoconcretista Hélio Oiticica. A disposição ortogonal dos edifícios, as aparições e desaparecimentos dos vazios, os caminhos angulados, várias circunstâncias sugeriam a comparação. Ao buscar Gautherot, encontrei Oiticica!
Desde então procuro, entre os edifícios comuns da cidade, fotografias que evocam a estética concretista. Dos “labirintos” iniciais passaram a surgir, desenhadas pela luz, imagens cada vez mais planas e abstratas. Este livro é o registro desse percurso.
(FONTE: a publicação)
Textos em português e inglês.